22.1.10



Eu nunca tive medo de chuva. Quando era mais novo, ficava no mar pegando onda enquanto se formavam tempestades em alto-mar, e nós - eu, meus irmãos, primos e amigos - esperávamos até a tempestade chegar o mais próximo possível da praia. Lembro que, por diversas vezes, minha mãe ou alguém da minha família ficava berrando lá da areia para sairmos da água. Perda de tempo! Apesar de vermos todo o esforço da pessoa em questão (que vontade de escrever 'questã'), fingíamos não escutar e nem ver nada.
Ontem fui prá estrada pedalar. Saí prá fazer um contra-relógio de 2 horas na Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto.Ou se preferirem, na Marechal Rondon. Ou, mais simples, no trajeto entre Itupeva e Itú. Mas ir até Itu, não seria grande coisa (pegou?). Essa estrada começa em Jundiaí e vai até o Mato Grosso do Sul, mas leva o nome do clérigo no tajeto entre Jundiaí e Itú. Depois, não sei se muda de nome mais alguma vez, mas é mais conhecida pelo nome do 'general de brigada'.
Voltando ao assunto 'treino', quando saí eram 17:50 hs do horário de verão (16:50 hs na realidade), o sol brilhava com certa intensidade e eu tinha tempo de sobra para voltar com luz natural. Obviamente, eu não tenho farol na bike e é um risco enorme pedalar no escuro. O perigo de ser atropelado ou de cair em algum buraco é constante e sem exergar direito e não ser visto, o risco aumenta demais. Logo de cara, quando saio da fábrica, pego 8 km de uma estradinha casca-grossa e que não tem acostamento em alguns pontos. Quando tem, o asfalto é tão ruim que pedalar em paralelepípedo é mais confortável.Essa estrada é um sobe e desce que parece interminável. São 6 ou 7 subidas de 500 m aproximadamente e mais 5 ou 6 descidas até a última subida que sai na Rodovia com diversos nomes já citada acima. Eu já me surpreendia com a velocidade média que eu fazia e, ao entrar na rodovia, a velocidade aumentou. Eu já fazia 35,5 km/h e tinha pedalado 32 km. Pelos meus cálculos, eu voltaria mais ou menos no mesmo ritmo e ainda teria um tempinho de sobra prá soltar um pouco até escurecer totalmente. Porém, ao fazer o retorno no km 32,5, olhando prá cima da cidade de Cabreúva, vi nuvens negras e uma 'chuva' de relâmpagos que demoravam entre um e outro, no máximo 15 segundos. Até ai, tudo tranquilo. A chuva e os relâmpagos estavam longe e eu conseguia manter o mesmo ritmo e sem fazer tanta força. Eu só não sabia que no céu existem atalhos e que as nuvens sabem cortar caminho. Um pouco antes de eu fazer o retorno, a tempestade estava para o meu nordeste e, quando fiz o retorno, ficou a meu sudoeste. A estrada seguia no caminho totalmente oposto ao que a maledeta tempestade estava e eu seguia bem. Não sei como, nem consigo imaginar, a tempestade de um segundo prá outro, apareceu literalmente à minha frente. A estrada não faz curvas tão acentudas para que eu fosse "distraidamente" em direção à chuva. Só sei que em pouquíssimos minutos eu estava debaixo d'água e, pior, dos relâmpagos.Os pingos doíam até na alma. Para minha sorte, a estrada tem muitos pára-raios e muitas empresas que também tem suas proteções contra as descargas elétricas. Era cada um que fazia tremer o chão, a ventania me fazia balaçar na bike e o asfalto tinha uma camada de água que tava mais parecend tobogã de parque aquático. Pedalei por mais uns 23 km com um medo desgraçado de cair, sem saber a velocidade, pois o cateye parou de funcionar, ouvindo as trovoadas, pois o i.pod também parou e, para 'ajudar', o frequêncimetro apagou. Mas também, fazer força naquele momento era um detalhe. O instinto de sobrevivência era maior do que qualquer coisa. Tanto que na volta, na estradinha casca-grossa, em um trecho sem acostamento e faltando uns 2 km prá eu chegar de volta, um caminhoneiro (que tem uma mãe que trabalha na casa da luz vermelha) me jogou fora da pista. O corno veio buzinando para eu sair, quando o mais fácil era ela mudar de pista. Que beleza!Lá em cima na boléia, o cara é macho.Queria ver aqui em baixo. Cinco minutos depois que entrei na fábrica, a chuva praticamente parou. Faz parte! Mas em 9 anos treinando, eu nunca tinha pegado uma chuva assim. Confesso que em alguns momentos senti um certo medo. Foram 65 km em 1h 53 min  (média de 34,5km/h).Em casa, já de banho tomado, me dei o direito de tomar duas taças de vinho enquanto assistia o Palestra ser assaltado em Presidente Prudente.

Fui.   


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