7.1.10

Caranguejos




Dando uma olhada em todos os sites de notícias hoje, ví uma - a da invasão de 100 milhões de caranguejos em migração em um ilha australiana - que me fez lembrar uma história curiosa de um amigo.
Ele ainda morava no litoral sul de São Paulo, mais precisamente em Peruíbe. Casado há pouco mais de dois anos, todo sábado pela manhã ia encontrar os amigos para uma pelada na areia. Futebol. Nada de peitos de fora.Isso, infelizmente, não é comum por aquelas bandas.Não que eu saiba.
O futebol que se iniciava lá pelas 10 hs, terminava no máximo 12 hs.Na sequência, só cerveja, caipirinha e petisco. No máximo às 14 hs ele já estava em casa almoçando junto da esposa. A frequência no futebol era assídua, mas isso começou a mudar depois de uns 4 ou 5 meses.O cara passou a chegar para o almoço mais do que prá lá de Bagdá.Ou de Ubatuba. A esposa, caseira até demais, com razão começou a achar ruim. O pior é que o sujeito chegava estragado, dormia a tarde toda e, muitas vezes, só acordava no dia seguinte. Azedo ainda por cima!
A esposa tentou, com ameaças, digamos, vazias, a deixá-lo caso isso não mudasse.
Foram mais umas 3 ou 4 semanas nesse ritmo.Foram muitas as brigas,  os finais de semana perdidos, caras amarradas, dias sem se falar. Até que numa bela sexta-feira, ao chegar do serviço, a esposa dispara : - Se você for jogar bola amanhã, quando voltar, suas malas estarão prontas!
Ele ainda pensou: - por que as minhas malas? Naquele momento era bom ficar quieto, pois ele sabia que já havia passado dos limites. Ela estava sendo compreensiva até demais. Para tentar se refazer e salvar o que ainda restava do casamento, de bate pronto, disse à esposa que no dia seguinte faria uma caranguejada para ela. Como se tivesse esquecído de tudo de um segundo para o outro, ela o abraçou perguntando se era verdade. A melhor que você já comeu - exclamou meu amigo.
No dia seguinte, 10 hs da manhã, tomou um banho, deu um beijo na esposa dizendo que dentro em breve estaria de volta.
Ao dobrar a primeira esquina, se lembrou que para chegar na casa do pescador que vendia os melhores caranguejos da cidade, tinha que passar em frente ao quiosque onde rolava a pelada. E agora? Pensou o sujeito. Bom, vou acenar de longe e seguir no meu destino. Nada nem ninguém pode me fazer fraquejar. E lá se foi. Ao o avistarem, não deu outra. Acenos, assobios, chamadas, provocações. Nada fez com que ele mudasse de ideia. Chegando na casa do pescador, escolheu os 15 melhores caranguejos - vivos, é claro! - pagou e, de tão feliz que estava, até se esqueceu que teria que passar de volta em frente ao futebol. Chegando perto, recomeçaram as tentativas de presuadí-lo. Mais uma provocação aqui, outra ali e o homem foi fraquejando. Pensou um pouco à respeito. Analisou o horário e viu que ainda tinha tempo de sobra. Uma cerveja não vai atrapalhar a vida de ninguém e ainda vai me abrir o apetite - pensou de novo. Conversa vai, conversa vem, já tinham ido uma dúzia de cervejas e uma caipirinha. E o pior é que já havia saído de casa há pelo menos 2 horas. Os amigos já estavam oferecendo a garagem de casa até que ele encontrasse um novo local para morar. Os que tinham mais coração, ofereceram o sofá da sala. Até que ele deciciu encarar o problema.Pegou o saco com os caranguejos e se foi. Já bem mais alterado e com o cheiro característico de caipirinha impregnado na face, andava e pensava numa desculpa. Poderia ser a mais esfarrapada possível, mas precisava de uma.
Ao chegar, viu a porta da frente aberta, deu uma esticada no pescoço e viu 3 malas prontas bem perto da porta e logo ao lado, conseguiu ver a pernas de sua esposa cruzadas e o pé que estava cruzado, balançando impacientemente.
Ele rapidamente jogou os caranguejos no chão enquanto a esposa, vermelha e já espumando, saía de casa e vinha em sua direção. Ela parou, olhou para os caranguejos, olhou para cara do marido que, mais do que ligeiro, começou a cercar os caranguejos enquanto falava: - Chegamos, pessoal! Foi difícil, mas podem entrar que a casa é essa.  

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